O depoimento abaixo foi postado por
mim, no dia 05 de outubro de
2013, para os amigos do Facebook.
Amigos,
Pensei muito antes de escrever
esta nota e cheguei à conclusão que se eu estou sempre compartilhando sabores e
flores com vocês, também é meu dever compartilhar minhas dores. Afinal, como
diz a música..."amigo é pra essas coisas..." e muitas outras,
certamente.
Faz um mês, na verdade dois,
estando eu aproveitando o meu direito sagrado de férias e viajando por terras
distantes, notei que estava com um problema na mama direita, mais precisamente
uma retração no mamilo e aí começou o drama...enviava emails para o patologista
da família e procurava informações e fotos na internet para comparar a situação
e a cada dia lá ia eu ao espelho e cada vez mais apavorada com as
transformações que iam se apresentando, veias estranhas, cor diferente e mamilo
retraído. Foi um mês nessa agonia, entre passeios e fotos...eu no espelho
assustada! Estava entre aproveitar as férias tão sonhadas e louca para chegar
em casa e correr para o médico.
Chegando, fui logo ao meu
sobrinho fazer uma ultrassonografia e ele teve a triste tarefa de comunicar que
eu deveria correr porque poderia ser algo mais sério e estava claro o danado na
imagem, se mostrando bem robusto não dava pra ter dúvidas. Só faltava saber se
era benigno ou maligno e aí veio a batelada de exames...vocês acompanharam
parte do meu desespero, lembram? E foi toda aquela burocracia dos planos de saúde
para autorização disso e daquilo, e tem mais, agora existem duas agendas para
alguns médicos da Unimed, uma para consultas e exames particulares e outra para
quem tem plano de saúde. Ou seja, se eu quero fazer o exame tal ou uma
consulta, tenho que esperar um mês, talvez dois...dependendo do que e de quem
quero consultar ou do procedimento que quero fazer. Assim está a nossa saúde
privada. E claro, se você quer pagar, imediatamente as portas se abrem e surgem
vagas pra tudo.
Aí veio o socorro do meu anjo
Léo, marido de minha sobrinha e patologista, só que ele mora em Belém do Pará.
Não pensei duas vezes, fui a Belém e em 3 dias úteis, estava com todos os
exames prontos. Incrível isso! Se vc não tem um parente médico, está frito, meu
amigo!
Graças a Deus, eu tenho e da
melhor qualidade, tanto como seres humanos, como também, profissionais
comprometidos com o juramento que fizeram ao se formarem.
E aí vim eu de Belém, com o
diagnóstico de carcinoma ductal invasivo grau III. Aí era levar à mastologista
e ver o que teria que ser feito.
Bom, quando a gente recebe um
diagnóstico desses (embora eu já estivesse preparada para a porrada), fica sem
chão. Aí vem a pergunta: por que eu? E toda vez que eu me fazia essa pergunta,
sempre vinham as lágrimas, o medo e o desespero.
Tive o apoio de muitos de vocês,
que mesmo não sabendo exatamente o que estava acontecendo, torciam por mim e
enviavam suas mensagens de solidariedade e orações. Aproveito neste parágrafo
para agradecer e dizer que vocês não fazem ideia do quanto elas foram
edificantes para mim.
Sabem, a gente quando passa por
esse tipo de situação, fica pra lá de fragilizada, quer colo e podem ter
certeza, vocês deram esse colo pra mim. Cada um à sua maneira!
E aí, do POR QUE? eu passei para
o E AGORA? Essa já foi a segunda fase desta experiência. Então, enxuguei as
lágrimas, engoli o medo e fui à luta!
Mastologista, marcar cirurgia, o
plano autorizar, escolha de hospital, etc, etc.
Quanto à mastologista, uma
profissional que por seu vasto trabalho nessa área e também por seu trabalho
social em uma ONG
de mulheres mastectomizadas, estou tranquila. Tem um jeito muito franco de
expor as coisas, até choca um pouco quando fala claramente e sem rodeios, mas
depois notamos que não tem como ser de outro jeito. Ela foi logo dizendo:
"Helena, o que você achou desse resultado? O que você acha que devemos
fazer?" Eu, meio que assustada, disse que ela deveria fazer o que ela
achasse que fosse o melhor para mim e o que ela faria se as nossas posições
estivessem invertidas. Então, ouvi a minha sentença: " Bom, a mastectomia
deve ser total, até seu mamilo está comprometido. O certo é limpar tudo, mas
quem decide é você. Estamos aqui negociando o que deve ser feito e o que você
quer que eu faça. Você é quem decide!" E eu não tive dúvidas, eu disse:
QUERO VIVER! POR FAVOR, FAÇA O QUE A SENHORA ACHAR QUE DEVE FAZER, LIMPE TUDO
PORQUE PARA MIM, O IMPORTANTE É A VIDA!!!
E aí mandei a última pergunta e
para mim, a que mais me aflige: Vou ficar curada? Ela: "Não sei, depende
do que estará nos seus linfonodos (na axila), do que o sentinela detectar (um
exame feito na hora da cirurgia) e de como o seu organismo responderá ao
tratamento. Vamos torcer pra isso e fazer o que pudermos." Eu: A senhora
acredita em Deus? Ela: "Claro! Conto com a ajude Dele". Eu: Eu
também.
Então, ela passou à outra
notícia: "Vamos limpar tudo, mas eu tenho algo a oferecer. Você quer fazer
a reconstituição imediata? Posso lhe enviar agora ao cirurgião plástico e
marcamos para o mesmo dia as duas cirurgias."
Confesso a vocês que nem passava
isso pela minha cabeça, eu só pensava que não queria morrer, que daria até a
outra mama para ter mais chances de vida, mas já que há essa possibilidade, fui
correndo ao cirurgião plástico e ele explicou todo procedimento que será feito.
Não é uma reconstituição imediata, essa reconstituição será feita em duas
etapas: 1 - limpeza total da área e colocar uma prótese de silicone para
preencher o vazio. Somente isso. Daí as minhas perguntas: Vai ficar igual à
outra? Ele:- Não! Eu: Vai ser do mesmo tamanho? Ele: Não! "Helena, apenas
para preencher o vazio e a pele não enrugar e colar, facilitará a 2ª etapa que
virá quando o seu tratamento acabar. Eu: Vai ter mamilo e aréola? Ele:-Não, seu
mamilo não tem como ser aproveitado, está comprometido."
E como será a 2ª etapa? Bom,
quando eu terminar a quimio e uma possível radio, quando estiver restabelecida
do tratamento, aí voltarei a ele para marcar a outra cirurgia. Nessa etapa ela
fará a reconstituição total de uma e acertos na outra mama para ficarem
esteticamente iguais. Saí de lá e fui correr atrás das outras providências que
deveriam ser tomadas junto ao plano.
Então, para encurtar a história,
passei pelas etapas do POR QUE EU? e da E AGORA? E estou na que eu considero
mais importante e é essa etapa que me faz estar aqui, relatando a minha
história pra vocês. Estou na etapa do PARA QUE?
Acho que tudo na vida tem um
porquê e se tenho esse deserto para atravessar, não tenho escolha, vou
atravessar! Mas para que? Algum ensinamento tenho que tirar disso, não?
Primeiro, não atravessarei
sozinha. Sei que estarei com Deus, minha família e meus amigos dando força e me
ajudando a suportar a árdua travessia e tenho certeza que seremos vencedores!
Segundo, devo passar o meu
testemunho para todas as mulheres e amigos que tenham mulheres em suas famílias
ou amigas, para que fiquem atentos e quando eu descrevi acima passo a passo de
como ficou a mama a ser retirada, é para que vocês passem isso adiante, para
que vocês mulheres, façam o auto-exame e também verifiquem não só, se há
nódulos, mas também se há alterações físicas na mama.
Vejam bem, a história que sempre
ouvimos, que câncer de mama é genético e que ficamos tranquilos quando dizemos:
minha avó não teve, minha mãe não teve, eu também não terei. Não é bem assim!
A minha avó não teve, a minha
mãe não teve mas...minha irmã teve e EU TAMBÉM TENHO. Fiquem atentos a essa
questão!
Só mais um detalhe que eu ia
esquecendo...quando levei os exames na mastologista, ela olhou e comparou
exames anteriores, ela disse:" o que aconteceu? O que você fez com a sua
vida? Estava tudo bem nos exames anteriores e rapidamente agora você está
assim? (apontando a última mamografia com o carcinoma)". Aí eu perguntei
se este tipo de câncer é emocional e ela respondeu: "Também é
emocional".
Terceiro, mudar meus hábitos:
cobrar menos de mim, me estressar menos com o que não está em minhas mãos
resolver e também com o que eu posso achar a solução, porque é como diz o
ditado "o que não tem solução, solucionado está", tentar comer mais
orgânicos e menos industrializados, não tenham dúvida que aquilo que comemos
pode ser fonte de vida como também de morte. E aproveitar mais aquilo que me
faz feliz: a natureza em que escolhi viver nesta serra maravilhosa, com os meus
bichos, o meu netinho que é a maior fonte de alegria para mim e meus filhos
amados sempre que puder, quero estar com eles. Não levar tudo a ferro e fogo, e
as coisas não podem ser motivo de vida ou morte. E por ironia da vida, agora
sim, para mim mudar, é uma questão de vida ou morte e eu opto pela vida.
Então é isso, queridos. A minha
primeira cirurgia será no dia 25 de outubro se Deus quiser, provavelmente
começarei a quimioterapia 20 dias depois e o resto, só a resposta do meu
próprio organismo à medicação dirá como vai ser.
Perdoem o susto dos dias
anteriores, o desespero muitas vezes jogado aqui e o pedido de socorro sem ao
menos vocês saberem o porquê. E mais uma vez, obrigada pela força! Sentia-me em
falta com vocês e espero que este depoimento possa servir de alerta.
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