quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Azar tem papel mais importante que genética em surgimento de câncer





Dois terços dos casos de câncer têm como responsáveis mutações aleatórias.
Mutações danosas podem ocorrer sem uma razão específica.

O simples e velho azar tem papel importante em determinar quem contrai e quem não contrai o câncer, de acordo com pesquisadores que descobriram que dois terços da incidência de câncer de vários tipos têm como responsáveis mutações aleatórias, e não fatores hereditários ou hábitos de risco.

Os pesquisadores afirmaram nesta quinta-feira (1º) que mutações aleatórias de DNA acumuladas em várias partes do corpo durante divisões de rotina nas células são as principais culpadas por muitos tipos de câncer.
Eles examinaram 31 tipos de câncer e descobriram que 22 deles, incluindo leucemia, câncer no pâncreas, nos ossos, nos testículos, no ovário e no cérebro, podem ser explicados em grande parte por essas mutações aleatórias, essencialmente azar biológico.

Os outros nove tipos, entre eles o câncer de pele e dos pulmões, são mais influenciados por fatores genéticos e ambientais, como hábitos de risco.
Em geral, eles atribuíram 65% da incidência de câncer a mutações aleatórias em genes.
"Quando alguém contrai o câncer, as pessoas imediatamente querem saber o motivo”, disse o médico Bert Vogelstein, da Escola de Medicina da Johns Hopkins University, nos Estados Unidos. Ele participou do estudo publicado no periódico "Science" junto com biomatemático Christian Tomasetti.
“Elas gostam de acreditar que há uma razão. E a razão em muitos casos não é o fato de alguém ter se comportado mal ou ter sido exposto a uma influência ambiental nociva. É somente porque a pessoa teve azar. É perder na loteria.”

Tomasetti afirmou que mutações danosas não ocorrem devido a uma razão em particular. Ele disse que o estudo indica que mudar o estilo de vida pode prevenir certos tipos de câncer, mas pode não ser eficaz para outros.
“Logo, devemos focar mais pesquisas e recursos para descobrir maneiras para detectar esses tipos de câncer em estágios iniciais, curáveis”, disse.

Fonte:  Reuters


terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Câncer de mama, amoras e um novo modo de mostrar a ciência






Projeto de doutorado da nutricionista Vanessa Cardoso Pires na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP avalia a hipótese de o consumo de extrato de amora pelos pais e pelas mães diminuir o risco de desenvolvimento de câncer de mama nas futuras filhas. A pesquisa está em andamento e tem a orientação do professor Thomas Prates Ong.




Por ser rica nos compostos antocianinas e elagitaninos, os chamados polifenóis, a amora, segundo a literatura, possui um potencial anti-inflamatório, anticarcinogênico e antiproliferativo, e “foi daí que veio a ideia de verificar se há um efeito protetor na programação fetal, ou seja, se as filhas dos pais que consumiram amora teriam algum benefício”, explica a pesquisadora.

A pesquisa intitulada Efeitos do consumo materno e/ou paterno de extrato aquoso de amora preta (Rubus spp.) na suscetibilidade da prole feminina à carcinogênese mamária quimicamente induzida, apesar de ainda estar em andamento, ganhou destaque a partir da premiação do concurso Euraxess Science Slam, no qual pesquisadores têm a oportunidade de apresentar seus projetos aos seus pares e ao público em geral de forma diferente do habitual, em um ambiente alegre e descontraído.

Ao encarnar a personagem da morte em busca de emprego, Vanessa apresentou sua pesquisa por meio de uma encenação, o que lhe rendeu o primeiro lugar entre os cinco finalistas.

Ciência vista com outros olhos

Surgido há poucos meses, o grupo GATU, cujo nome deriva da palavra tupi “nheengatu”, que significa “língua fácil de ser entendida”, é formado por Vanessa e mais dois integrantes, seus colegas do mestrado na Unifesp, Gustavo Arruda e Leonardo Parreira, e possui justamente a proposta de mostrar a ciência de uma forma diferente para as pessoas leigas, tornando-a mais palpável, dado que em geral os cientistas “falam como se as outras pessoas já tivessem um conhecimento prévio”, comenta a pesquisadora.
           
Vanessa apresentou a pesquisa por meio de uma encenação: primeiro lugar          
Assim, lançado o concurso Euraxess, o grupo se mobilizou para inscrever a pesquisa de Vanessa. Os trabalhos do grupo surgiram nas palestras que haviam planejado dar individualmente. Versando sempre sobre os assuntos acadêmico-científicos das pesquisas desenvolvidas, os pesquisadores utilizavam recursos como o storytelling, no qual o assunto abordado é desenvolvido em meio a uma história, o que permite ao espectador imergir na apresentação, despertando o seu interesse.

“A primeira vez que usei essa técnica foi em um simpósio de nutrição pediátrica no qual 80% das pessoas que estavam assistindo eram pediatras. Eu fiquei com medo porque estava trazendo uma coisa bem diferente para pessoas bastante tradicionais. Foi o momento de ver se o negócio iria pra frente. E o pessoal adorou a ideia”, relata, atribuindo o retorno positivo da platéia à interação obtida, que demonstrou o interesse do público. Muitos, inclusive, a procuraram para conversar após a exposição.

Além do storytelling, a apresentação trouxe slides nos quais não constavam palavras, mas animações, imagens e desenhos, aproximando as informações da realidade.

O grupo acredita que contextualizar e aproximar a explicação do dia-a-dia são mecanismos para atrair a curiosidade do público, especialmente porque no fim seria a isso que se prestaria a ciência.

As dificuldades, entretanto, também fazem parte da rotina dos membros do GATU em função de a ideia ser bastante inovadora no universo acadêmico. Ainda assim, Vanessa destaca a aprovação da proposta: “há uma aceitação maior entre as pessoas mais tradicionais na área do que entre as pessoas mais jovens. Acredito que porque estes estão acostumados e condicionados a respeitar as pessoas que falam mais seriamente”, conta.


Fonte:  Juliana Pinheiro Prado | Agência USP