terça-feira, 14 de abril de 2015

Inca recomenda redução de agrotóxicos para prevenir câncer





O Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca) se posicionou nesta quarta-feira (8) contra o modo como os agrotóxicos são usados no Brasil, recomendando sua redução em um documento de cinco páginas, no qual ressaltou os riscos dessas substâncias para a saúde e de contribuírem para a incidência de câncer. "O modelo de cultivo com o intensivo uso de agrotóxicos gera malefícios, como poluição ambiental e intoxicação de trabalhadores e da população em geral", diz o documento, que, além de apontar as intoxicações causadas imediatamente após a exposição, também enumera efeitos que aparecem após anos de exposição: "Dentre os efeitos associados à exposição crônica a ingredientes ativos agrotóxicos podem ser citados infertilidade, impotência, abortos, malformações, neurotoxicidade, desregulação hormonal, efeitos sobre o sistema imunológico e câncer". A recomendação do instituto é que se adote "a redução progressiva e sustentada do uso de agrotóxicos", prevista no Programa Nacional de Redução de do Uso de Agrotóxicos e a produção agroecológica, segundo a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica. O Inca explica no documento que a presença de agrotóxicos não se restringe a produtos in natura, como legumes e verduras, mas também existe em alimentos industrializados com ingredientes como trigo, milho e soja: "A preocupação com agrotóxicos não pode significar a redução do consumo de frutas, legumes e verduras, que são alimentos fundamentais em uma alimentação saudável e de grande importância na prevenção do câncer". O coordenador de ensino do Inca, Luis Felipe Pinto, destacou que o Brasil é o país para o qual a discussão é mais importante, já que ele é o principal consumidor de agrotóxicos do mundo e tem forte contribuição da agricultura em sua economia. Segundo ele, "O Inca não faz isso por achismo ou por questão ideológica. Segue as evidências cientificas, fruto do trabalho de sua equipe e de cientistas no mundo inteiro". Pinto justifica o alerta afirmando, também, que a Organização Mundial de Saúde e o Inca prevêem que, em 2020, o câncer se torne a principal causa de morte no Brasil. Para ele, os efeitos do aumento do uso de agrotóxicos nos últimos anos devem se refletir em ainda mais casos da doença em 15 ou 20 anos: "Houve uma explosão dos pesticidas. Em 10 anos, subiu oito vezes e meia o gasto econômico [com agrotóxicos], o que é um indicador disso". Para o produtor orgânico Alcimar do Espírito Santo, há grande interesse dos agricultores em mudar sua produção para orgânica, mas hesitações econômicas ainda são um entrave. "Há toda uma cultura da agricultura convencional, em que eles já estão acostumados com seus compradores", diz ele, que explica também que a transição é difícil, porque a terra que recebia pesticidas e fertilizantes precisa "descansar" por um tempo para produzir produtos livres dessas substâncias. O nutricionista do Inca Fábio Gomes afirma que a população que trabalha no campo é a mais afetada pelos agrotóxicos e recomenda que a economia orgânica seja incentivada pelos consumidores: "É preciso valorizar os produtos orgânicos. E também interferir e sugerir aos legisladores e tomadores de decisão para que eles possam valorizar a produção de produtos livres de agrotóxicos, inclusive encarecendo a produção dos outros produtos".

Fonte:  INCA

Brasil lidera o ranking de consumo de agrotóxicos







RIO - O consumo de agrotóxicos no Brasil saltou de 2 bilhões de dólares para mais de 7 bilhões entre 2001 e 2008, alcançando valores recordes de 8,5 bilhões de dólares em 2011. Em 2009, o país se tornou o maior consumidor mundial de agrotóxico, com mais de um milhão de toneladas, o que equivale a um consumo médio de 5,2 kg de veneno agrícola por habitante. Os dados são de um relatório lançado nesta quarta-feira pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca).

Segundo o texto, o uso de sementes transgênicas foi um dos responsáveis por essa realidade, já que os transgênicos exigem grande quantidade de agrotóxicos em sua produção.

— Não há dúvida que são venenos que atuam a nível molecular nas células, embora ainda tenhamos que conhecer melhor suas consequências — afirmou Cláudio Noronha, chefe de prevenção e vigilância do Inca. — Exposições ambientais a agentes químicos, físicos ou biológicos são o principal fator que leva ao câncer. E o Inca tem compromisso com esta questão.
Segundo a biomédica do Inca Marcia Scarpa, da unidade técnica de exposição ocupacional e ambiental, há dois tipos de intoxicação pelo agrotóxico: agudo, ligado a sintomas logo após o contato, como irritação da pele e olhos, coceira, cólicas, vômitos, diarreia, espasmos, dificuldades respiratórias e convulsões; e a intoxicação crônica, que ocorre quando o indivíduo é exposto a pequenas quantidades por longos períodos. Nesse caso há “uma infinidade de efeitos", diz Marcia, como redução do sistema imunológico, desregulação endócrina e prejuízdos ao sistema nervoso central. Nesse caso está o câncer.

— Existe uma subnotificção de casos de intoxicação aguda. O efeito pode ser confundido com outros problemas como viroses — acrecenta Marcia, destacando que a média de subnotificção é de 1 notificado para cada 50 não notificados.

A agricultora Maria de Fátima Silva, de Andrades, em Teresópolis, usa defensivo agrícola sem proteção desde criança. Hoje aos 54 anos, ela não enxerga os males, mas reclama de dores nas costas e no coração. Já o produtor de alimentos orgânicos, Alcimar Espírito Santo diz que hoje são poucos os agricultores que enxergam os agrotóxicos como solução.

— Eles querem se ver livres disso. Vem crescendo o número de pessoas se convertendo aos orgânicos. E quem começa, não volta — comenta, admitindo que não é fácil fazer esta transição. — A gente deve buscar libertar o agricultor familiar que está aprisionado a este modelo de produção.

Noticiado em: 08/04/2015
Flávia Milhorance, Saúde

Fonte:  INCA