sexta-feira, 4 de abril de 2014

A História do Alex





A História do Alex 

Vou tentar contar a história que presenciei em parte, da rotina do Alex, um anjo que conheci na quimioterapia desta semana.

Como lhes falei anteriormente, estou fazendo a quimioterapia semanal e por conta de ir e vir no mesmo dia (não estou aguentando o calor em Niterói), meu horário mudou para mais cedo, embora nesta semana eu tenha ido um dia antes para a consulta quinzenal com oncologista e psiquiatra. 
De alguma forma, isso me proporcionou conhecer outras pessoas lá, porque tendo o nosso horário certo, sempre encontramos as mesmas pessoas quando fazemos semanalmente. Então, graças ao meu pedido para adiantar o horário, tive o prazer de conhecer o Alex, um rapaz lindo física e espiritualmente, acho que no máximo tem uns 32 anos.

Deus quando quer falar comigo, Ele me faz umas coisas assim e depois me deixa pensar sobre tudo.  Dessa vez  eu estava desanimada, muito inchada com os corticóides e com o calor, autoestima lá embaixo e com horror de me olhar no espelho.  Claro que é passageiro, que meus cabelos voltarão, que minha sobrancelha voltará, que voltarei ao meu peso quando terminar o tratamento, que farei a cirurgia reparadora no seio, que meus cílios renascerão...e que eu tenho uma peruca pra levar enquanto isso, que posso fazer uma hena na sobrancelha e usar cílios postiços, etc.  TUDO É PASSAGEIRO! Mas amigos, por mais que se saiba, por mais que nós tenhamos clareza que faz parte de um tratamento para se alcançar um propósito maior que é a cura de um câncer, a vaidade feminina despenca quando os cabelos caem e vc se vê outra pessoa diante do espelho e aí não tem fé que não se abale, afinal somos humanos e temos nossas fragilidades como tais.
E foi aí, nesse estado de espírito, pensando que amanhã comemoraremos o primeiro aninho do meu neto, pensando que estarei horrível nas fotos (SOU MULHER), que se não estiver melhor das alergias respiratórias terei que estar de máscara, com esse espírito pra baixo, entrei na sala de quimio e me deparei com um rapaz, que providencialmente estava sentado ao lado da poltrona que eu iria me sentar. 
Sempre que chego lá, encontro pessoas mais ou menos da minha idade, com as mesmas características que todo paciente em quimioterapia fica, amarelo, olhos fundos com enormes olheiras, sem cabelo, etc.  Dessa vez, havia um rapaz, que ainda conserva seus músculos tonificados (não sei como), alto, que por não fazer a quimio vermelha mantém seu cabelo normal... mas com um olhar tão triste, que me deixou duas noites pedindo a Deus por ele e tardando mais a dormir, pensando em sua história.
O Alex, meus amigos, está simplesmente há 11 anos fazendo quimioterapia e lutando para viver.  Quando entrou na adolescência, apareceu seu primeiro câncer - INTESTINO - daí passou por uma cirurgia e teve uma infecção generalizada e os médicos disseram aos seus pais que ele teria no máximo três dias de vida.   O então adolescente, começou sua luta contra a sentença de morte e ganhou a primeira batalha.  Depois vieram os tratamentos e quando se recuperava... veio o segundo câncer - RIM - e teve que retirar o rim e recomeçar os tratamentos. E os anos passando, sua juventude vivida entre uma quimio e outra, entre uma cirurgia e outra.  Agora, ele está com outro câncer - PULMÃO - e segundo me informou, algumas metástases pelo corpo.
Então, começamos a conversar e eu disse que ainda choro muito às vezes e que não estou conseguindo me olhar no espelho, apesar da minha fé e de achar que vou me curar, que fico impaciente com os efeitos colaterais e que de vez em quando eu desabo.  Com uma doçura no olhar, ele me falou que sempre chora, chora a vida que ele não teve, os esportes que gostaria de praticar e não tem forças e pelos filhos que nunca terá pois a quimioterapia e a radio o deixaram estéril.  Falou que faz bem chorar, que ele que vive esse drama há onze anos ainda chora, imagina quem está apenas começando o longo caminho da cura... mas, apesar do choro, ele falou que todo dia quando acorda e vê que está vivo, agradece, agradece por ter mais um dia com sua família, agradece por chegar na janela e ver a vida lá fora.  Porque como ele me contou, cada dia é um desafio, quando deita à noite, não sabe se amanhecerá e sua maior alegria é essa, saber que ganhou mais um dia... E assim se vão os tortuosos onze anos do Alex, viver um dia de cada vez, sem planos, sem nenhum projeto, mas imensamente agradecido por cada dia que está recebendo, afinal ele teria no máximo três dias de vida e lá se vão onze.  Como ele falou: "estou no lucro, não posso reclamar!"
Conversamos muito, eu buscando forças nele e ele passando sua sabedoria e superação para mim.   E me falava algo que eu já venho falando aqui, que ele não suporta ver jovens se acabando nas drogas, no álcool, no cigarro... que se as pessoas soubessem o quanto é difícil lutar por mais um dia de vida quando se está sem saúde, elas não jogariam a sua saúde no lixo.
E foi aí que ele me falou que faz quimioterapia todos os dias, imaginem isso! Faz a branca, com doses menores, três dias na clínica e nos outros dias, ele leva a medicação em uma bolsinha colada ao cateter e assim vai usando todos os dias a quimio. Acostumou-se com os efeitos colaterais... acostumou com a dor, acostumou com o sofrer. 
Vocês imaginem a dimensão do sofrimento desse rapaz... onze anos de dor, de falta de perspectivas, de insucesso nos tratamentos e a cada metástase uma nova dor, uma nova decepção e mais um sofrer.
O que eu vi naqueles olhos foi uma imensa resignação, uma força enorme que o mantém vivo e uma fé absoluta, não em se imaginar curado, mas em saber que se ainda está entre nós, é porque seu momento ainda não chegou e lhe resta agradecer ao Pai pelos onze anos concedidos, apesar das adversidades, apesar de uma vida tão sofrida, mas que pensa valer a pena, nem que seja para vivê-la olhando da sua janela.
Esse foi mais um anjo que Deus enviou para conversar comigo.  O Meu Pai tem um jeito muito especial de falar comigo e ainda bem que Ele entende as minhas fraquezas e me envia Seu colo quando quero chorar.  Dessa vez Ele enviou através do Alex, que talvez ainda esteja entre nós com esse propósito: confortar e dar forças a quem está fragilizado.

Helena Estephá  



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