Projeto de doutorado da nutricionista Vanessa
Cardoso Pires na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP avalia a
hipótese de o consumo de extrato de amora pelos pais e pelas mães diminuir o
risco de desenvolvimento de câncer de mama nas futuras filhas. A pesquisa está
em andamento e tem a orientação do professor Thomas Prates Ong.
Por ser rica nos compostos antocianinas e elagitaninos, os
chamados polifenóis, a amora, segundo a literatura, possui um potencial
anti-inflamatório, anticarcinogênico e antiproliferativo, e “foi daí que veio a
ideia de verificar se há um efeito protetor na programação fetal, ou seja, se
as filhas dos pais que consumiram amora teriam algum benefício”, explica a
pesquisadora.
A pesquisa intitulada Efeitos do consumo materno e/ou
paterno de extrato aquoso de amora preta (Rubus spp.) na suscetibilidade da
prole feminina à carcinogênese mamária quimicamente induzida, apesar de ainda
estar em andamento, ganhou destaque a partir da premiação do concurso Euraxess
Science Slam, no qual pesquisadores têm a oportunidade de apresentar seus
projetos aos seus pares e ao público em geral de forma diferente do habitual,
em um ambiente alegre e descontraído.
Ao encarnar a personagem da morte em busca de emprego,
Vanessa apresentou sua pesquisa por meio de uma encenação, o que lhe rendeu o
primeiro lugar entre os cinco finalistas.
Ciência vista com outros olhos
Surgido há poucos meses, o grupo GATU, cujo nome deriva da
palavra tupi “nheengatu”, que significa “língua fácil de ser entendida”, é
formado por Vanessa e mais dois integrantes, seus colegas do mestrado na
Unifesp, Gustavo Arruda e Leonardo Parreira, e possui justamente a proposta de
mostrar a ciência de uma forma diferente para as pessoas leigas, tornando-a
mais palpável, dado que em geral os cientistas “falam como se as outras pessoas
já tivessem um conhecimento prévio”, comenta a pesquisadora.
Vanessa apresentou a pesquisa por meio de uma encenação:
primeiro lugar
Assim, lançado o concurso Euraxess, o grupo se mobilizou
para inscrever a pesquisa de Vanessa. Os trabalhos do grupo surgiram nas
palestras que haviam planejado dar individualmente. Versando sempre sobre os
assuntos acadêmico-científicos das pesquisas desenvolvidas, os pesquisadores
utilizavam recursos como o storytelling, no qual o assunto abordado é
desenvolvido em meio a uma história, o que permite ao espectador imergir na
apresentação, despertando o seu interesse.
“A primeira vez que usei essa técnica foi em um simpósio de
nutrição pediátrica no qual 80% das pessoas que estavam assistindo eram
pediatras. Eu fiquei com medo porque estava trazendo uma coisa bem diferente
para pessoas bastante tradicionais. Foi o momento de ver se o negócio iria pra
frente. E o pessoal adorou a ideia”, relata, atribuindo o retorno positivo da
platéia à interação obtida, que demonstrou o interesse do público. Muitos,
inclusive, a procuraram para conversar após a exposição.
Além do storytelling, a apresentação trouxe slides nos quais
não constavam palavras, mas animações, imagens e desenhos, aproximando as
informações da realidade.
O grupo acredita que contextualizar e aproximar a explicação
do dia-a-dia são mecanismos para atrair a curiosidade do público, especialmente
porque no fim seria a isso que se prestaria a ciência.
As dificuldades, entretanto, também fazem parte da rotina
dos membros do GATU em função de a ideia ser bastante inovadora no universo
acadêmico. Ainda assim, Vanessa destaca a aprovação da proposta: “há uma
aceitação maior entre as pessoas mais tradicionais na área do que entre as
pessoas mais jovens. Acredito que porque estes estão acostumados e
condicionados a respeitar as pessoas que falam mais seriamente”, conta.
Fonte: Juliana Pinheiro Prado | Agência USP
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