A História do Alex
Vou tentar contar a história que
presenciei em parte, da rotina do Alex, um anjo que conheci na quimioterapia
desta semana.
Como lhes falei anteriormente, estou fazendo a quimioterapia
semanal e por conta de ir e vir no mesmo dia (não estou aguentando o calor em
Niterói), meu horário mudou para mais cedo, embora nesta semana eu tenha ido um
dia antes para a consulta quinzenal com oncologista e psiquiatra.
De alguma forma, isso me proporcionou conhecer outras
pessoas lá, porque tendo o nosso horário certo, sempre encontramos as mesmas
pessoas quando fazemos semanalmente. Então, graças ao meu pedido para adiantar
o horário, tive o prazer de conhecer o Alex, um rapaz lindo física e
espiritualmente, acho que no máximo tem uns 32 anos.
Deus quando quer falar comigo, Ele me faz umas coisas assim
e depois me deixa pensar sobre tudo.
Dessa vez eu estava desanimada, muito inchada com os corticóides e
com o calor, autoestima lá embaixo e com horror de me olhar no espelho. Claro que é passageiro, que meus cabelos
voltarão, que minha sobrancelha voltará, que voltarei ao meu peso quando
terminar o tratamento, que farei a cirurgia reparadora no seio, que meus cílios
renascerão...e que eu tenho uma peruca pra levar enquanto isso, que posso fazer
uma hena na sobrancelha e usar cílios postiços, etc. TUDO É PASSAGEIRO! Mas amigos, por mais que
se saiba, por mais que nós tenhamos clareza que faz parte de um tratamento para
se alcançar um propósito maior que é a cura de um câncer, a vaidade feminina
despenca quando os cabelos caem e vc se vê outra pessoa diante do espelho e aí
não tem fé que não se abale, afinal somos humanos e temos nossas fragilidades
como tais.
E foi aí, nesse estado de espírito, pensando que amanhã
comemoraremos o primeiro aninho do meu neto, pensando que estarei horrível nas
fotos (SOU MULHER), que se não estiver melhor das alergias respiratórias terei
que estar de máscara, com esse espírito pra baixo, entrei na sala de quimio e
me deparei com um rapaz, que providencialmente estava sentado ao lado da
poltrona que eu iria me sentar.
Sempre que chego lá, encontro pessoas mais ou menos da minha
idade, com as mesmas características que todo paciente em quimioterapia fica,
amarelo, olhos fundos com enormes olheiras, sem cabelo, etc. Dessa vez, havia um rapaz, que ainda conserva
seus músculos tonificados (não sei como), alto, que por não fazer a quimio
vermelha mantém seu cabelo normal... mas com um olhar tão triste, que me deixou
duas noites pedindo a Deus por ele e tardando mais a dormir, pensando em sua
história.
O Alex, meus amigos, está simplesmente há 11 anos fazendo
quimioterapia e lutando para viver.
Quando entrou na adolescência, apareceu seu primeiro câncer - INTESTINO
- daí passou por uma cirurgia e teve uma infecção generalizada e os médicos
disseram aos seus pais que ele teria no máximo três dias de vida. O então adolescente, começou sua luta contra
a sentença de morte e ganhou a primeira batalha. Depois vieram os tratamentos e quando se recuperava...
veio o segundo câncer - RIM - e teve que retirar o rim e recomeçar os
tratamentos. E os anos passando, sua juventude vivida entre uma quimio e outra,
entre uma cirurgia e outra. Agora, ele
está com outro câncer - PULMÃO - e segundo me informou, algumas metástases pelo
corpo.
Então, começamos a conversar e eu disse que ainda choro
muito às vezes e que não estou conseguindo me olhar no espelho, apesar da minha
fé e de achar que vou me curar, que fico impaciente com os efeitos colaterais e
que de vez em quando eu desabo. Com uma
doçura no olhar, ele me falou que sempre chora, chora a vida que ele não teve,
os esportes que gostaria de praticar e não tem forças e pelos filhos que nunca
terá pois a quimioterapia e a radio o deixaram estéril. Falou que faz bem chorar, que ele que vive
esse drama há onze anos ainda chora, imagina quem está apenas começando o longo
caminho da cura... mas, apesar do choro, ele falou que todo dia quando acorda e
vê que está vivo, agradece, agradece por ter mais um dia com sua família,
agradece por chegar na janela e ver a vida lá fora. Porque como ele me contou, cada dia é um
desafio, quando deita à noite, não sabe se amanhecerá e sua maior alegria é
essa, saber que ganhou mais um dia... E assim se vão os tortuosos onze anos do
Alex, viver um dia de cada vez, sem planos, sem nenhum projeto, mas imensamente
agradecido por cada dia que está recebendo, afinal ele teria no máximo três
dias de vida e lá se vão onze. Como ele
falou: "estou no lucro, não posso reclamar!"
Conversamos muito, eu buscando forças nele e ele passando
sua sabedoria e superação para mim. E me
falava algo que eu já venho falando aqui, que ele não suporta ver jovens se
acabando nas drogas, no álcool, no cigarro... que se as pessoas soubessem o
quanto é difícil lutar por mais um dia de vida quando se está sem saúde, elas
não jogariam a sua saúde no lixo.
E foi aí que ele me falou que faz quimioterapia todos os
dias, imaginem isso! Faz a branca, com doses menores, três dias na clínica e
nos outros dias, ele leva a medicação em uma bolsinha colada ao cateter e assim
vai usando todos os dias a quimio. Acostumou-se com os efeitos colaterais... acostumou com a dor, acostumou com o sofrer.
Vocês imaginem a dimensão do sofrimento desse rapaz... onze
anos de dor, de falta de perspectivas, de insucesso nos tratamentos e a cada
metástase uma nova dor, uma nova decepção e mais um sofrer.
O que eu vi naqueles olhos foi uma imensa resignação, uma força
enorme que o mantém vivo e uma fé absoluta, não em se imaginar curado, mas em
saber que se ainda está entre nós, é porque seu momento ainda não chegou e lhe
resta agradecer ao Pai pelos onze anos concedidos, apesar das adversidades,
apesar de uma vida tão sofrida, mas que pensa valer a pena, nem que seja para
vivê-la olhando da sua janela.
Esse foi mais um anjo que Deus enviou para conversar
comigo. O Meu Pai tem um jeito muito
especial de falar comigo e ainda bem que Ele entende as minhas fraquezas e me
envia Seu colo quando quero chorar.
Dessa vez Ele enviou através do Alex, que talvez ainda esteja entre nós
com esse propósito: confortar e dar forças a quem está fragilizado.
Helena Estephá
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